sexta-feira, 4 de abril de 2014

beira mar



Observava o mar distraído na beira da praia. 
Mirava as moçoilas e as saias. A textura fragmentada da areia, amarela. O vazio se espalhava. A paz sentou ao meu lado. Intrigada, perguntou dos meus machucados. Eu disse que andei mal amado e com as mazelas do mundo justifiquei meu mau estado. Ela não entendia como eu podia viver sem paz se ao meu lado ela permanecia. Não entendia que a verdadeira paz não está ao lado, em cima ou embaixo, mas dentro. Se de dentro para fora, da alma paz não aflora, de fora pra dentro vive-se de veneno. É pecado enganar-se quando a paz está ao lado. 
Ela se manteve intrigada. Em paz se mantinha, mas um conflito começava.
 
-Mas como pode? Tens o mar e a areia! O céu, moçoilas e, quem sabe sereias... Como pode tanto caos e tristeza? Tanto dito de não? Eu vejo a sua contradição.


-Ora, paz - disse eu tranquilo - pode-se estar no céu, no mar, em casa ou em um asilo... Se não estiveres de bem contigo, não tem jeito. Tem dias que precisamos olhar para o umbigo, buscar nosso próprio abrigo, procurar o que temos escondido. O externo é o contexto, mas quem faz o texto são nossos atos ternos... Se a paz vem de fora, não aflora, fico subalterno e tenso. Quero que parta de mim esse momento.


-Mas estás com a paz aqui, birrento...


-Eu sei. E agradeço a companhia. Mas ainda não fazes moradia em mim. Quando eu for capaz, com paz estarei. Não ao lado com um diálogo como agora, mas resplandecendo como o nascer de uma aurora e em paz, renascerei.



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